Conheci a franquia The Walking Dead, pela série de TV, como a grande maioria das pessoas, na época até pensei em comprar os livros quando lançaram a história do Governador, mas acabei encontrando as HQs da Editora HQM, que lançam aqui no Brasil compilados com 5 ou 6 hqs em média num único encadernado.
O maior diferencial de TWD e que muita gente mesmo sendo fã de carteirinha não percebe, é que é uma série (seja de tv, livros ou hqs) sobre pessoas com zumbis e não sobre zumbis. O mundo está infestado de monstros comedores de gente, mas os vilões e quem realmente causa grandes problemas, são os próprios humanos.
Eu assisti as 3 primeiras temporadas da série de TV e tenho que admitir de era muito legal, mas no momento em que eu descobri a HQ tudo que eu vi na TV pareceu tempo jogado fora. Eles tornaram a história um produto para o publico geral, uma série para assistir em família no domingo a noite, coisa que a revista está longe de ser.
Obs.: Pelo que vejo em comentários na internet, parece que a série tem alguns “espasmos” que à aproximam mais da HQ, mas é uma cena em meio a dezenas de capítulos e minha fase de assistir novelas já passou a muito tempo.
É uma série que acompanha o xerife Rick Grimes que após acordar de um longo coma, não encontra ninguém no hospital onde estava internado, ao sair do prédio se depara com mortos vivos por todos os lados, depois de encontrar sua esposa e filho refugiados com seu parceiro e um grupo que eles conheceram. Rick então os lidera para tentar manter todos vivos e em segurança nesse mundo quebrado.
Como dito na introdução, o diferencial da série para outros produtos com zumbis, é que aqui o foco está em como as pessoas lidam com a falta de um governo e autoridades e como nascem as novas sociedades. Sempre com zumbis comendo seus amigos e familiares no momento da primeira distração.
Mas vamos ao que interessa, a história em quadrinhos inaugurou a série Walking Dead lá atrás em 2003, de lá pra cá, mais de 150 edições foram publicadas (aqui no Brasil, não chegamos a centésima ainda) e se fosse colorido, seriam baldes e mais baldes de tinta vermelha gasta para ilustrar tanto sangue.
Algo que devo salientar para quem não conhece ainda, é que somente a capa é colorida, a história toda é preta e branca e para quem está acostumado a ler quadrinhos coloridos, isso dá um choque bem grande, me incomodou muito no começo, mas a história vale muito mais . O mais interessante é que depois de ler 10 edições consecutivas, peguei uma edição de Guerras Secretas (Marvel) e fiquei meio perdido naquela chuva de cores.
Para quem acompanha na TV uma forma simples de explicar a HQ é que ela é muito mais adulta, muita violência, gore, estupro, bebes que morrem, criança matando criança… Os acontecimentos mostrados no seriado são mais ou menos os mesmos já apresentados na HQ só que de uma forma muito mais branda. Outra diferença é que Robert Kirkman (criador da série) mata mais que George R. R. Martin (Game of Thrones), e como nas HQs ele não tem a pressão de agradar milhões de pessoas como na TV, ele mata os personagens sem dó, tanto que em algumas edições ele apresenta uma tabela no final com a situação atual dos personagens, informando quem ainda está vivo e quem morreu.
Vários personagens que na TV são importantes, nas HQs não sobreviveram nem duas edições e isso torna a revista tão interessante. Se um dos personagens principais é simplesmente esfolado por um grupo de zumbis na frente da filha de 9 anos, você tem certeza que qualquer coisa pode acontecer e nada é impossível. Quando um vilão pega uma espada e diz que vai fatiar o refém membro por membro, em outras histórias o leitor ficaria tranquilo pois sabe que o cara vai parar ou alguém vai aparecer para salvá-lo, mas em TWD isso não acontece, ele ameaçou, o refém já pode começar a pensar sua vida sem seus membros.
Algo incrível que Kirkman conseguiu foi evoluir o mundo com o passar do tempo sem autoridades, tudo começa com um grupo procurando suprimentos e outros sobreviventes, conforme os meses e anos vão passando, já não existem mais pessoas perdidas sozinhas, tentando sobreviver, temos pequenas sociedades que se formaram e tentam sobreviver em conjunto, o grande lance que Kirkman nos joga na cara, é que se o governo cai a anarquia surge e os humanos retomam sua natureza animal e só os mais fortes sobrevivem. Então, sempre que Rick e seu grupo que cruzam com outros grupos, são “sociedades” lideradas por “ditadores”, a pessoa com mais atitude e com menos problema em sujar as mãos acabam liderando pessoas “normais” e os tornando monstros em alguns casos.
Uma história diferente de tudo que eu já tinha lido em quadrinhos, tem ação, um drama pesadíssimo que me deixou aflito em muitos momentos, te apresenta situações em que questionam as suas crenças e sua própria moral. Só para exemplificar melhor sem dar spoilers, em certo momento Rick dilacera um homem com as mãos durante uma briga, e o mais chocante dessa situação é que o ato dele tirou um peso do meu peito de uma forma bizarra, ele poderia ter só apagado o cara ou ter dado um tiro nele, mas não é o que a situação pedia, ninguém poderia ter sobrevivido tanto tempo naquele mundo sendo nice guy desse jeito e Kirkman sabe disso e seu mundo não muda conforme é conveniente.
Se você nunca leu, esse talvez seja a HQ que eu mais recomendo que leiam (junto com o arco Guerra Civil da Marvel). Se você leu algumas edições e abandonou por achar que já viu tudo no seriado, leia pelo menos até as disputas entre Michonne e o governador, só para você notar as claras diferenças entre as duas mídias.